ASAS ANTÁRTICAS: Operando com neve e lama


Publicado em 30/11/2012 por  em Asas Antárticas, Brasil, Força Aérea Brasileira, Militar

A bordo do C-130 Hercules da FAB, no solo Antártico. (Foto: Oswaldo Claro Jr. / Cavok)
Olá a todos. Na coluna de 15 de novembro, terminei de forma provocativa, chamando a atenção para o próximo tema: a operação aérea. Pois bem, apertem os cintos porque vai balançar um pouco. Prontos para decolar? Ok.
Quando retornei da minha primeira viagem a Antártica, em 2009, muitas pessoas ficaram surpresas ao descobrir que um avião pousava naquela região. A surpresa aumentava mais quando descobriam que, além de pousar, ainda havia o lançamento de carga, realizado a quinhentos pés (cerca de 150 metros) de altura. E, por fim, a estupefação culminava ao ver o avião que realizava aquilo tudo: o Hercules – com seus quatro motores, 35 toneladas (vazio) e 45 metros de envergadura. Aos olhos de um leigo, aquilo era um desafio à lógica e ao bom senso. Puro engano!
Tanto o equipamento quanto seu operador não poderiam ser mais bem escolhidos. As tripulações do 1o/1oGrupo de Transporte, único esquadrão da FAB a realizar missões em solo antártico, passam por um longo processo de treinamento. Apenas para se ter uma ideia, um piloto de C-130 leva, no mínimo, oito anos para poder ocupar um lugar atrás do manche daquela aeronave. Depois, são mais quatro anos de esquadrão até estar apto a sumeter-se à avaliação do conselho interno, que decidirá se o pretendente poderá integrar o quadro de tripulantes antárticos da unidade.
E quanto ao Hercules, bem, se você ainda não o conhece (o que, dúvido muito!), corra até o Google mais próximo, pois a aeronave dispensa apresentações.
A operação aérea antártica se resume a dois momentos: na base chilena Presidente Eduardo Frei Montalva, onde são realizados toques e arremetidas para treinamento das tripulações, bem como a transferência de pessoal da base brasileira; e o lançamento de carga sobre a estação Comandante Ferraz. Essa parte da missão começou em 1991, oito anos após o estabelecimento da nossa estação.
Qual a mais complexa e desafiadora? Vocês escolhem.
Os pousos em Frei são, na maior parte do ano, sobre uma camada de gelo em uma pista de 1.292 metros de extensão (o Santos Dumont possui 31 metros a mais). Nos meses de verão, a situação muda para lama, o que só piora o cenário. A meteorologia, determinante para qualquer atividade na região, já obrigou pilotos a voarem próximo a linha d´água devido a camada extremamente baixa, para conseguirem alinhar com a pista que, na verdade, fica pouco acima do nível do mar.
Os ventos são constantes, mas essa é a única informação imutável a seu respeito. Eles variam bastante tanto em intensidade quanto direção, fazendo com que um avião do porte do C-130 seja jogado para os lados sem nenhuma cerimônia. Durante a aterrisagem, os pilotos se utilizam de duas técnicas bem conhecidas entre eles: pouso de máximo esforço – para pistas curtas – ,e  potência assimétrica nos motores – permitindo melhor controle da aeronave quando operam em superfícies irregulares e escorregadias, exatamente o cenário na Antártica.
E se tudo aquilo não bastasse, ainda tem o problema da desorientação. Em uma região coberta por gelo e não raro nublada, cima e baixo podem parecer perigosamente iguais, restando aos tripulantes apenas as indicações dos instrumentos no painel do Hercules. Quando possível, uma referência externa é sempre bem vinda, como no caso da Igreja Ortodoxa da Trindade, na base russa de Bellingshausen, instalada no alto de uma elevação próxima a lateral esquerda da cabeceira 29 de Frei.
Vou me despedindo, mas as operações aéreas não terminam por aqui. Ainda tem os voos de lançamento de carga. E lembram-se que eu disse que ia balançar? Pois vai mesmo. Só para provocar mais um pouquinho, como de hábito, vou adiantar o que aconteceu no meu primeiro lançamento: gravidade zero. Isso mesmo, você leu certo. Em 15 de dezembro eu conto os detalhes. Até lá.
Conheça os bastidores do Asas Antárticas através de sua fanpage.
Oswaldo Claro Jr. é carioca nascido em Botafogo, mas torcedor do Flamengo, fotógrafo especializado em aviação militar, já tendo publicado trabalhos em livros como os dois esquadrões de Hercules da FAB – 1°/1° GT e 1° GTT – , unidades de helicópteros, caças, além de acompanhar profissionalmente desde 2007 a Esquadrilha da Fumaça, uma de suas grandes paixões. Sua fotografia, fortemente influenciada pelo linguagem cinematográfica, busca privilegiar o movimento, convidando o público a mergulhar na ação. Para conhecer mais sobre seu trabalho, visite sua página no Facebook.

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